Depois desse tempo tão longo em isolamento social (principalmente físico), refletindo e estudando sobre as macrotransições, os impactos da pandemia da Covid-19 e pensando em como oferecer algo à uma comunidade que me recebeu e que me trata tão bem, resolvi expor algumas das minhas ideias e sonhos e lançar um convite aberto:

Como nos prepararmos - e prepararmos nossa Comunidade - para os tão imensos desafios que enfrentamos hoje e os que enfrentaremos nos próximos anos?

Valores

Esse sonho funciona mais ou menos assim: como uma casa, como construir uma casa. Primeiro fazemos a fundação com os "VALORES". Entendidos aqui como aquilo que sustenta uma maneira de pensar, de ser e de agir e que pode representar o que é fundamental à uma Comunidade - e que precisa ser sempre lembrado.

O que pensam pessoas como o Sr. Zé Bibiano, Dona Teresinha, Sr. João Néco? E também os mais velhos das famílias Ribeiro, Carlos, Magalhães, Costa, Souza, Rosa, Alves, Neves?

O Sr. Ovídio do Campestre, o Ditão do Zeca... e outros tantos nomes de homens e mulheres que são o retrato de Gonçalves?

Gente que viveu em tempos “duros”: na roça, sem luz e sem internet, sem televisão, sem remédios prontos… E também os meninos e meninas das jovens gerações, filhos(as) e netos(as), que já nasceram neste mundo tão interconectado, múltiplo e veloz.

Essa seria então a base, a sustentação da casa que eu sonho.

Quais seriam os valores que permitiriam uma Comunidade aprender junto e se preparar para todas as "covides" que vierem?

Quais seriam os princípios que orientariam as ações e fortaleceriam a Comunidade Gonçalvense para as recessões econômicas, para as secas e chuvas intensas, para lidar com uma roça perdida ou com os turistas não vindo?

Princípios

Chegando juntos até aqui, o sonho seguiria se construindo com uma segunda camada: os pilares que dão estrutura à uma casa.

Trago para refletirmos coisas que ouvi ou li de pessoas que muito me inspiram, como as norte-americanas Karenna Gore e Elinor Ostrom, o brasileiro Marcelo Cardoso, o colombiano Bernardo Toro, o húngaro Karl Polanyi. Pessoas sensíveis e inteligentes, com visões amplas sobre a vida e que mergulham fundo nos estudos sobre o ser humano, sobre as relações humanas e os sistemas sociais que criamos.

Desse universo de inspirações, emergiram para mim Seis Princípios que acredito que poderiam nos orientar:

Os três primeiros inspirados pela Karenna Gore:

1. Inclusão e Garantia de Direitos aos mais vulneráveis e desamparados social e economicamente;

2. Visão de Impacto de Longo Prazo que preserve recursos e promova condições de desenvolvimento para as gerações futuras;

3. Cuidado e proteção à toda vida - humana e não-humana;

4. As relações humanas em primeiro lugar e somente depois as "transações" (o dinheiro) - inspirado pelo Karl Polanyi;

5. O cuidado em primeiro lugar e depois a "competição" - inspirado pelo Bernardo Toro;

6. Um arranjo de recursos que funcione na prática, não só em ideias e planos - inspirado pela Elinor Ostrom: 'Lei de Ostrom';

Princípios que estão valendo, claro, também para estas ideias e sonhos que estou descrevendo.